Leitura da Alma



“Solidários, seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.”


Bezerra de Menezes




sábado, 23 de julho de 2011

Guarda Municipal de Campos

Sei que o artigo de hoje é meio polêmico, pois envolve não a política das instituições, mas a política nas instituições. Entretanto, a análise é mais com luneta que com microscópio e, portanto, nada de nomes, nem de fatos específicos. Vou direto ao assunto: a Guarda Municipal da cidade é vista com certa antipatia pela sociedade. Basta observar que a expressão absolutamente pejorativa “guardinha” é a mais utilizada nas narrativas de alguns munícipes quando abordados ou autuados, sobretudo no trânsito. Sei disso não apenas por ser campista, mas porque escuto toda semana o desabafo do efetivo durante as aulas que ministro no curso de qualificação oferecido pela ONG Viva Rio.
Minha disciplina chama-se “Administração de Conflitos”, mas antes de explicar como administrá-los promovo uma catarse reflexiva nas turmas, o que certamente abre os caminhos para a cizânia. Os relatos dos guardas informam sobre cidadãos que não querem ser tratados como indivíduos sujeitos aos direitos e deveres postulados pelas leis. É gente que depois de cometer algum tipo de infração acha que não pode ser punida e recorre aos seus contatos para pedir ou exigir tratamento diferenciado de pessoa. Estamos falando desses absurdos relacionais que vão do cordial “jeitinho” ao violento “você sabe com quem tá falando?”.
Os agentes da Guarda estão cotidianamente sujeitos aos códigos hierárquicos de uma sociedade tradicional que ainda opera segundo posições e contatos. É o amigo do vereador, o vizinho do assessor e o motorista do juiz, quando não os próprios em pessoa, requerendo o seu tratamento diferenciado, ou melhor, personalizado. Então, pergunto: será que não existe também o conhecido do guarda? E é aí que a reflexão esquenta mais, pois evidentemente as instituições não estão livres dos códigos que são operados fora delas.
Penso que as experiências relatadas pelos guardas municipais revelam aspectos bem mais profundos das relações sociais não só em Campos, mas também no próprio país. Evidentemente, estou me referindo à visão (ou cegueira?) que se tem do universalismo de procedimentos. A cabeça de parte dos brasileiros ainda vislumbra no Estado uma espera paternalista e patrimonialista. Não por outra razão, os “favores” e o “rouba, mas faz” são justificativas usadas nas urnas. Infelizmente, a coisa pública permanece vista com desconfiança: ou bem massacra o indivíduo, ou bem favorece a pessoa.
Quando os campistas chamam os guardas civis de “guardinhas” reforçam o distanciamento (e a descrença) da sociedade em relação ao Estado à medida que telefones são acionados como armas para pedidos de liberação. Como agir em situações onde o que está em jogo não é apenas a discordância diante da aplicação da lei, mas a cultura do prestígio pessoal, quando não da arrogância do poder? Neste contexto, é melhor nem mediar certos conflitos, sob pena de que também não haja certas mudanças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AÇÕES DE INTERESSE DA CATEGORIA

  • TJRJ Nº 0036995-53.2009.8.19.0014
  • TJRJ Nº 0022387-16.2010.8.19.0014
  • TJRJ Nº 0012642-12.2010.8.19.0014

Minha lista de blogs